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Era Dezembro, chegara a África poucos dias antes do Natal de 1969, com duas filhas bem pequenas que vibravam com o Natal, com o presépio e com Jesus nas palhinhas.
"De Natal, nada havia que lembrasse!". Só, ao ligarmos o aparelho de rádio, de vez em quando ouvíamos algumas músicas alusivas.
E, ali estávamos, naquele sertão africano, e, que fazer, para festejarmos o nosso primeiro Natal em África?
Depois dos nossos primeiros contactos com os nativos e do nosso óptimo entendimento com eles, foi um "Deus nos ajude!"
Recorremos directamente à Mãe Natureza, colhemos pedaços de troncos secos, outros de belas árvores em plena pujança, frutos e sementes silvestres em várias cores, e dos pássaros de belas e exóticas plumagens, algumas penas decorativas e tão belas que até hoje conservo algumas de recordação!
Com os troncos secos armamos um pequeno monte que "maticámos" com barro amassado com água como é normal em África.
Demos-lhe formas; apareceram relevos, fizemo-lhe uma gruta; num riacho; uma ponte bem típica, com paus secos. Com restos de barro amassado modelámos as figurinhas tradicionais do presépio de Jesus, não faltando os respectivos animais.
Deixamos secar as nossas esculturas e pintámo-las com tintas obtidas dos produtos da Natureza que colhemos com a ajuda dos nossos novos amigos africanos.
Desposemos nos devidos lugares tudo o que havíamos construído. O milagre aconteceu! Ali estava o nosso presépio, fruto do nosso trabalho, da nossa criatividade e dos recursos da Natureza!
Chegou a "Noite de Natal". Fizemos uma abundante Ceia e reunimos os nossos novos amigos e vizinhos africanos. Demos de comer a toda a criançada depois cearam os adultos.
Houve batuque, música e dançares africanos; (Marrebenta) uma mulher negra saltou ao meio da roda e cantou em língua nativa, cuja tradução é a seguinte:
"Tu sabes Senhor que eu sou pecadora, a minha religião é a de Maomé.
As minhas filhas, então, crianças de 5 e 7 anos encarregaram-se de explicar às crianças negras os símbolos do presépio, tínhamos o intérprete que traduzia tudo!
Tivemos um Natal de verdade e vivemo-lo em toda a intensidade.
Pela primeira vez, os nossos novos amigos souberam o que era o Natal de Jesus.
Foi gratificante ver tanta alegria no olhar dessas crianças e também no olhar dos adultos.
Foi um Natal de partilha de solidariedade, de encantamento, num local onde: "De Natal nada havia que lembrasse"!
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