Versos Soltos
Amor se me tens amor
Tira um dia e vem me ver
Que as cartas para mim não servem
Que sabes que não sei ler
Sou do Arco de São Jorge
Prá cá da Boaventura
Se eu não bebo não canto nada
Se eu bebo ninguém me atura
Ò morte tirana morte
Vê o dano que causaste
Que na sombra do Alcepreste
A minha amada levaste
Morte que vieste aqui
Porque não vais mais além
Quando levaste a filha
Porque não levaste a mãe
Sei tantas cantiguinhas
Que um caderno não as leva
Que o meu amor me ensinou
Quando andava a apanhar erva
No meio daquele mar
Tem uma latadinha de uvas
Não há faca que as apanhe
Lá se perdem de maduras
O meu amor coitadinho
Barrete não quer usar
Para à missa usar chapéu
Para o sol não o queimar
Eu fui Domingo à missa
Encontrei José no adro
Para jogar uma bisca
Com cartinhas de folhado
No meio daquele mar
Está uma pedrinha de roliça
Quando o meu amor se encosta
Quando vai e vem da missa
A cana verde do mar
Foi enterrada na areia
Quem a for desenterrar
Tem cem anos de cadeia
A cana verde do mar
Foi enterrada no lodo
Quem a for desenterrar
Ganha um cordeirinho novo
Se a menina quer que eu cante
Dê-ma vinho ou dinheiro
Que esta minha gargantinha
Não é fole de ferreiro
Eu fui à cidade por terra
E a Machico numa lancha
Que o que Deus talha no céu
Na terra não se desmancha
Dá-me daí um Adeus
Desse teu rosto assim serio
Só peço que me acompanhes
À beira do cemitério
Dá-me um beijo que eu dou-te dois
A minha paga é dobrada
Que a fama é de quem ama
Quem paga não deve nada
Manuel se tu és meu
Não tenhas outro amor
Que serves de meu companheiro
Vais comigo para onde eu for
Anália Augusta da Silva (Arco de São Jorge)
Navegador n.º 180 - Março de 2008
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